Os fundamentos da preservação criogénica são parcialmente baseados numa suposição não provada: a preservação da estrutura física de um ser humano pode ser suficiente para permitir reanimar no futuro essa pessoa, mesmo que tenha sido considerada "morta" por outras convenções. Assim, o objetivo de cada suspensão criogénica é preservar a única estrutura física do paciente. Infelizmente, não existem ainda orientações claras para determinar exactamente quais aspectos da estrutura de um corpo são necessários para reanimar um paciente no futuro.

Actualmente, os procedimentos de suspensão criogénica assentam numa "animação suspensa". Uma preservação perfeita poderá garantir que a identidade e a personalidade de um indivíduo suspenso crionicamente estarão intactas aquando da reanimação. Não é sabido o que faz uma identidade única, e a preservação perfeita está actualmente fora do nosso alcance. Isto significa que nós nem sequer sabemos se uma suspensão criogénica ideal, de acordo com os critérios atuais, preserva informação estrutural suficiente que nos permita preservar a identidade. Enfrentando muitas incógnitas, ainda temos que lutar por um transporte "perfeito".

Nenhum dos transportes ou suspensões criogénicas são iguais. Aprendemos com todos e usamos os nossos novos conhecimentos para melhorar os nossos procedimentos. Sem uma dedicação à aprendizagem, não conseguiríamos melhorar as nossas técnicas, ou as nossas hipóteses de reanimação. As técnicas actuais de suspensão criogénica estão assentes sobre suspensões criogénicas passadas, tecnologias médicas, e muita pesquisa. Muitos desenvolvimentos no transporte e protocolos de suspensão foram adaptadas de pesquisas relacionadas, pois pequenas pesquisas analisam os problemas específicos da criónica. Grande parte desta investigação é útil, mas quando aplicada aos objectivos especiais de criónica, pode resultar em compromissos importantes. (Alguns compromissos específicos dos métodos de suspensão criogénica actuais são discutidos abaixo.) A sabedoria de tais compromissos não pode ser determinada por muitos anos. Mesmo a escolha aparentemente simples de nitrogénio líquido como meio de armazenamento do paciente não o foi.

O nitrogénio líquido é um meio comprovado para armazenamento de sangue, embriões e tecidos humanos durante longos períodos de tempo com um alto grau de viabilidade. Não há praticamente nenhuma actividade metabólica nessa temperatura (-196 ° C ou -320 ° F). É barato, prontamente disponível, e não tóxico. Os pacientes de suspensão criogénica, uma vez congelados, não vão sofrer praticamente nenhuma deterioração estrutural durante milhares de anos [43]. No entanto, este processo de arrefecimento provoca danos significativos para os tecidos do paciente.

O tecido humano contém uma grande quantidade de água. Levando os tecidos desprotegidos para temperaturas ultra-baixas faz com que a água se torne em gelo, o que danifica o tecido por desidratação das células e o avanço dos cristais de gelo aperta-o. Mesmo com as melhores técnicas disponíveis hoje em dia, este tipo de danos causados pelo congelamento acontecem com algum grau em cada paciente suspenso criogénicamente. Apesar de danos causados pelo congelamento ainda não poderem ser reparados, podem ser parcialmente evitados.

A transformação de água em gelo é o problema, por isso remover a água dos tecidos deve reduzir os danos causados a uma célula quando esta mudança de fase ocorre. Os crioprotectores, como o glicerol e dimetilsulfóxido, são substâncias químicas que protegem os tecidos de alguns dos danos associados ao congelamento. Através da difusão, eles são capazes de remover a água do tecido e proteger contra o frio extremo. Mas, eles são tóxicos em temperaturas médias.

Distribuir crioprotetores sobre um corpo todo seria quase impossível sem um sistema circulatório viável. O sistema circulatório é uma rede de transporte integrada dentro do corpo. Biliões de canais, usando um meio líquido, fornecem nutrientes às células. O mesmo sistema é utilizado para entregar crioprotectores a todo o corpo. Este processo de perfusão também é útil para remover o excesso de água - água no sistema circulatório como um subproduto da difusão crioprotectora - do corpo.

As suspensões criogénicas são realizadas em indivíduos que tenham sido declarados legalmente mortos. Aplicando o critério mais amplo possível, a morte é pronunciada apenas após a paragem dos batimentos cardíacos e respiração. Os batimentos cardíacos e a respiração são bons indicadores do estado dos sistemas circulatório e respiratório. Estes grupos de órgãos fornecem continuamente oxigénio e glicose às células, sem os quais a saúde e a vida não podem ser sustentadas. Todas as funções do corpo são afectadas pelos constantes, complexos micro-ajustes que mantêm as células felizes e o corpo saudável. Esses mecanismos celulares de correcção são tão equilibrados que mesmo alguns minutos sem circulação ou respiração, normalmente, resultam, actualmente, em danos irreversíveis. Se os desequilíbrios iniciais não forem rapidamente revertidos, os danos isquémicos vão resultar na morte das células e, eventualmente, do próprio.

Felizmente, a indústria evoluiu para ajudar a restaurar a função e saúde a órgãos danificados. O Sistema de Emergência Médica (SEM) - presente em quartéis de bombeiros, esquadras de polícia, clínicas e hospitais em todo o mundo - tem numerosas técnicas para restabelecer o balanço metabólico das pessoas que adoecem. A estabilização imediata de um paciente é um objectivo comum para o pessoal do SEM e membros da equipa de transporte. Com um sistema de resposta de emergência próprio, a Alcor tem sido capaz de adoptar algumas técnicas utilizadas na medicina de reanimação e aplicá-las nos procedimentos de transporte.

A hipotermia é ter a temperatura corporal anormalmente baixa. As actividades metabólicas, como o consumo de energia, abrandam num corpo em hipotermia. Existem crianças que têm sofrido abaixamentos da temperatura do corpo, enquanto perdidos em tempestades de neve ou submersos em lagos gelados e mesmo assim sobreviveram. A baixa temperatura do corpo ajuda a reduzir o metabolismo do corpo (e, consequentemente, reduz a taxa de decaimento celular).

O suporte cardiopulmonar (SCP ou CPS), oferece meios artificiais para restaurar a circulação e respiração e também é útil na estabilização de um paciente. (O SCP pode ser contrastado com a ressuscitação cardiopulmonar (RCP ou CPR), que é um termo utilizado na medicina convencional. Embora os protocolos de apoio sejam bastante semelhantes, é importante reconhecer a diferença no propósito.)

O CPS standard exige o estabelecimento de uma via aérea (através do qual 100% de oxigénio é fornecido aos pulmões), a aplicação de um dispositivo mecânico de CPR e a administração de medicamentos para reduzir ou reverter os danos causados pela paragem dos batimentos cardíacos e respiração independente. Como afirmado anteriormente, este assemelha-se a uma resposta de emergência pelo pessoal do SEM; no entanto, existem algumas diferenças interessantes.

Um paciente de suspensão criogénica está legalmente morto. Como resultado, todos os procedimentos de suspensão criogénica são classificados como de investigação. O pessoal do SEM pratica medicina e estão, assim, limitados às medidas de salvamento e de medicamentos que podem usar num paciente. O pessoal da Alcor não tem essas restrições. Cada paciente suspenso tem acesso a um sofisticado - e bastante eficaz - conjunto de medicamentos estabilizadores de células e suporte cardiopulmonar indisponível para as pessoas convencionais do SEM.

Mesmo medicamentos sofisticados, suporte cardiopulmonar, e refrigeração não fornecem um nível adequado de proteção estrutural, mas eles dão algum tempo. Quando o paciente é transportado para uma funerária local, o sangue do paciente é substituído por uma solução de preservação de órgãos. Embora alguns membros da equipa de transporte estejam qualificados para realizar a cirurgia necessária e a perfusão exigida nesta última etapa, um agente funerário disposto deve ser capaz de ajudar (ver capítulo 9).

Como uma visão geral dos processos de transporte, isto pode parecer uma parte escura da criónica de hoje. É verdade que muitos compromissos têm sido (e continuarão a ser) feitos com viabilidade de curto e longo prazo sem garantia de sucesso. O pessoal de transporte deve concentrar os seus esforços em coisas que são conhecidas para ajudar os pacientes, empregando todos os recursos à sua disposição. E eles devem fazê-lo rapidamente, pois a identidade de um paciente em suspensão criogénica certamente que depende da eficácia das medidas de protecção e do tempo necessário para aplicá-las. Dados de transportes do passado mostram várias informações sobre as circunstâncias da morte, a velocidade de resposta de emergência e as medidas de estabilização tomadas. Com inúmeras variáveis e poucas orientações, as avaliações dos processos de transporte passados fornecem resultados inconclusivos. A população de pacientes de 29 é uma pequena amostra para dados estatísticos confiáveis.

Muito do que pode ser adquirido desses dados díspares tem alguma aplicação. Há uma série de dores de cabeça associadas à realização de um transporte. Algumas pessoas conseguem superá-las e outras não. Muitos dos que optam por participar nos transportes partilham traços comuns: inteligência, um cérebro flexível, e um bom sentido de humor. Transportar um paciente em suspensão criogénica nunca é fácil, nem previsível, e cada uma dessas qualidades vão invariavelmente influenciar o resultado final.

Qualquer um que tenha examinado de forma realista os problemas e obstáculos da criónica e acredita que os riscos, incertezas e alternativas são compensados pela possibilidade que poderá realmente funcionar são bem-vindos para ajudar. E cada um pode fazer a diferença.