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Capítulo 8: Administração da Medicação


Arrefecimento da superfície, respiração, e restauração da circulação não providenciam uma completa protecção para as células que são privadas de oxigénio. Qualquer descontinuidade na circulação de oxigénio para as células, irá causar uma queda nas reservas de oxigénio e irá despoletar o consumo de outras formas de energia disponíveis, como a glucose. Assim que as reservas de oxigénio estiverem vazias as células começam a procurar por outras fontes de energia. Alguns dos sistemas celulares vão começar a falhar, e como não existem fontes de energia disponíveis para prevenir ou reparar os danos, cada falha irá precipitar outras. Estas falhas desencadeiam uma reacção em cadeia de danos celulares que acabam por se tornar bastante difíceis de se parar. Em alguns casos, a simples restauração do fluxo de oxigénio será suficiente para reverter os danos. Os casos mais extremos requerem administração de medicação. Mas em muitos casos, vinte minutos sem oxigénio é suficiente para causar danos cerebrais irreversíveis para o corpo humano.

Cada ser humano é constituído por triliões de células. Estas células precisam de oxigénio. Se aprender apenas um pouco sobre como a privação de oxigénio e outros factores (como hipotermia) afectam a sensível função celular, irá começar a entender a importância deste passo nos procedimentos de transporte.


Disfunção celular

A membrana celular tem apenas duas moléculas de espessura e é composta por lípidos e proteínas. Esta fina camada actua como um "guardião" ao controlar a composição da célula, deixando passar apenas as moléculas que necessitam de sobreviver. Os lípidos são gordos, e qualquer coisa que seja solúvel em gordura pode entrar na célula. Vários tipos de moléculas pequenas irão também entrar na célula.

As proteínas na membrana celular sobressaem-se através da dupla camada dos lípidos e criam ligações com as moléculas vizinhas. Estabelecer este tipo de ligações modifica a configuração da proteína, e quando a reconfiguração esta completa, a molécula vizinha será "presa" no interior de uma célula. Os canais das proteínas são reguladores muito eficientes da concentração de iões. Eles são capazes de manter concentrações de iões de 10000:1 entre o fluido extracelular e intracelular.


Canais iónicos

Um dos mais importantes tipos de canais de proteínas é aquele que regula o potássio e o sódio. O potássio e o sódio, juntamente com o cálcio, mantêm o ritmo cardíaco, regulam o equilíbrio ácido-base do organismo, e são responsáveis pela condução dos impulsos nervosos e da contracção muscular. Uma vez que tanto o potássio como sódio estão presentes em todos os alimentos, o corpo mantém poucas reservas. O potássio está mais concentrado dentro das células, enquanto que o sódio pode ser encontrado em grandes concentrações fora das células.

Outro canal importante é aquele que regula os níveis de cálcio. Normalmente a diferença de cálcio entre o extracelular e o intracelular é na proporção de 10000:1. Rupturas nos níveis de sódio e de potássio irá levar os canais de cálcio a se abrirem indistintamente. O cálcio irá inundar as células e causar a produção de enzimas destrutivas.

A administração de medicação irá ajudar a prevenir os danos causados pelo cálcio. A nimodipina inibe as contracções musculares ao bloquear o influxo de cálcio nas células. Uma vez que enzimas destrutivas são criadas com o excesso de cálcio, elas serão menos abundantes. A nimodipina está também relacionada com a redução de danos causados pelos espasmos arteriais durante a isquemia. Por causa das suas propriedades relaxantes, os pacientes irão sofrer uma baixa na pressão sanguínea (o que pode ser combatida com adrenalina).

Pelo facto de ser altamente lipofílico, a nimodipina pode atravessar a barreira hematoencefálica para providenciar uma protecção eficiente para a vasculatura cerebral.

Cloridrato de diltiazem tem efeitos comparáveis e é uma alternativa para a nimodipina. A principal distinção entre os dois é que o diltiazem tem como alvo principal o coração, e não o cérebro.

Citrato de sódio é também usado para prevenir os danos do cálcio. Transforma o cálcio num composto químico estável não destrutivo.

Outro ião para neutralizar é o ferro. O ferro é essencial para a estrutura da hemoglobina. Quando os glóbulos vermelhos se degradam, o ferro (Fe+2) é libertado para limpar o oxigénio. Cloridrato deferoxamine quelatos de ferro, formando um complexo estável que impede o ferro de se envolver em reacções químicas posteriores.

Hemoglobina

A hemoglobina compõe grande parte do volume dos glóbulos vermelhos, que constituem cerca de metade do volume transportado pelo sangue. Estas são as células com quem o oxigénio se irá ligar para chegar até aos tecidos. Quando o fluxo sanguíneo pára, as células sanguíneas caem abruptamente. Elas se estabelecem. Quando o fluxo sanguíneo recomeça outra vez, os mais leves, pequenos objectos e fluidos acima do "chão" da hemoglobina começam a se mover novamente, mas as células sanguíneas mais densas não. Este efeito é chamado de coagulação. Sem uma quantidade suficiente de glóbulos vermelhos, os tecidos permanecerão desnutridos após um episódio isquémico. Coagulação capilar pode ser bloqueada pela administração de Dextran-40 [25].

Na falta de oxigénio, os glóbulos vermelhos irão ligar-se com outros glóbulos vermelhos. Estes glóbulos vermelhos irão combinar-se em padrões aparentemente casuais. Os capilares são minúsculos e irão apenas permitir a passagem de estruturas com apenas o tamanho de uma célula sanguínea. As estruturas formadas por múltiplos glóbulos vermelhos, acabam por ficar alojadas no interior dos capilares e restringem o fluxo dos vasos sanguíneos ou impedem-no completamente.

Heparin irá prevenir completamente a formação de novos coágulos, mas não irá reverter os coágulos já formados. Por essa razão, é essencial que o Heparin seja a primeira medicação a ser administrada ao paciente para o transporte.

Lisossomas e Peroxissomas

A flutuar livremente dentro da célula são dois perigos adicionais. Lisossomas e peroxissomas são essencialmente sacos de veneno à espera do sinal para rebentar. Estas são substancias perigosas que levam moléculas complexas a se decomporem em formas mais simples.

Os Lisossomas e peroxissomas não se irão auto-destruir antes de mais de 1 hora após a paragem cardíaca [25, 26, 27]. Rigor mortis é uma indicação de que estes sacos começaram a rebentar, e o protocolo de estabilização (com excepção do arrefecimento) não será administrado aos pacientes que apresentem evidencias de rigor mortis.

Rigor mortis refere-se à contracção dos músculos que ocorre após a morte. Começa 3 a 4 horas após a declaração de morte e termina usualmente num espaço de 12 horas. Esta contracção irá desaparecer gradualmente durante as próximas 48-60 horas. Outros factores afectam o começo do rigor mortis, incluindo a quantidade de esforço físico que ocorreu antes da declaração de morte. Se sinais de rigor forem observados mais cedo do que esperado, eles irão recuar mais cedo também.

Em casos em que o rigor está presente, suporte cardio-pulmonar e subsequente perfusão podem ser tentados, mas as decisões serão tomadas numa base de caso-a-caso. Para aqueles pacientes onde o rigor apareceu mas desapareceu num curto espaço de tempo, nenhuma tentativa deverá ser feita para restaurar a circulação. Os membros da equipa de transporte irão simplesmente preparar o envio para Scottsdale em tais circunstâncias.

A quantidade de dados isquémicos podem ser parcialmente acedidos usando química complexa e análises de gás sanguíneo. Estas análises são feitas rotineiramente em hospitais para vítimas de ataques cardíacos. Análise de químicos complexos está para além das capacidades da equipa de transporte da Alcor, mas testar o pH do sangue de um paciente é uma maneira simples de se obter informação útil.

pH

Este é o símbolo usado para exprimir a quantidade de acidez e basicidade de uma solução aquosa. Uma definição mais precisa do que é o pH é que este é um logaritmo negativo de uma concentração de iões de hidrogénio, relativamente à água. Ácidos são aquelas substâncias que se desmembram e libertam iões de hidrogénio, enquanto que os bases (soluções alcalinas) se desmembram e libertam iões de hidroxila. Numa escala de 0-14, uma solução com pH=7 é neutra; uma que se encontre entre pH=0 e 6.99 é ácida, e uma com pH=7.01 até 14 é alcalina (ou básica). Em humanos, pH anda compreendido entre 7.3 e 7.5.

Enquanto a temperatura corporal de um paciente é reduzida, pode-se esperar uma queda no pH de 0.07pH PER ºC [28, 29]. Esta queda é ofuscada pelo efeito de isquemia no pH: é de esperar que o pH do paciente transportado baixe (fique mais ácido) significantemente. Quando os lisossomas ou os peroxissomas são queimados, as toxinas que são libertadas para a corrente sanguínea irão começar a quebrar os laços das moléculas complexas para formar moléculas mais simples. Muitas das moléculas mais simples formam ácidos de vários tipos.

Bicarbonato de Sódio e trometamina são duas medicações que ajudam a regular os níveis ácido/base num paciente de transporte. Cada uma delas acciona um mecanismo de protecção dos ácidos no sangue. Trometamina faz parte do protocolo de medicação, e o bicarbonato de sódio é usado em casos em que a equipa de transporte tem o pessoal disponível para monitorizar e regular as alterações de pH assim que todas as medicações tiverem sido administradas.

Glucose

A glucose no corpo é transformada em energia por todas as células. A concentração de glucose no sangue é determinada pela quantidade de insulina produzida pelo pâncreas. Insulina é uma hormona que promove a absorção da glucose pelo fígado. Níveis de metabolismo normais devem ser mantidos durante o transporte, se existir pessoal disponível. Caso contrário, os níveis de glucose não são regulados, e eles irão-se transformar em ácido lácteo, o que é prejudicial para as células.

A administração de dextrose, que é outro nome para a glucose, irá aumentar os níveis de glucose no sangue. Os níveis normais de glucose sérica variam entre 90-110 mg/dl. Se a dextrose (50% de concentração) for usada, os níveis de glucose no sangue irão aumentar aproximadamente em 2mg/dl por ml administrado.

50% dextrose (ml) =[nível desejado de glocuse (mg/dl) - nível de glucose medido (mg/dl)]
                                                                            2

Pacote de Medicação

Existem várias maneiras para guardar a medicação de maneira a estar pronta a usar. Soluções devem estar guardadas em garrafas abertas ou fechadas, recipientes/sacos de plástico, frascos, ou ampolas. Garrafas ou sacos são usados para administrar medicações em volumes que excedem geralmente 50ml. Estas medicações exigem a utilização de tubos intravenosos. Frascos e ampolas são geralmente usados em casos onde o volume é inferior a 50ml. Pequenas garrafas e ampolas podem também conter um pó que deve ser hidratado antes da administração. A maioria dos pacotes pode conter um pouco mais do que o rótulo indica. Tenha sempre o cuidado de medir apenas a quantidade necessárias para o paciente.
 
Uma coisa que todos os pacotes de medicação têm em comum é que existe sempre uma tampa protectora de plástico a cobrir a porta por onde a medicação é removida. Estas tampas são facilmente removidas do pacote. Assim removidas, não podem ser mais substituídas, por isso elas apenas devem ser removidas quando a medicação está a ser preparada para administração. Assim que as tampas são removidas, o selo de baixo deve ser limpo com álcool. No caso de frascos multi-dose, este processo deve ser repetido sempre que a medicação é administrada.

Quando os medicamentos são retirados para seringas, podem existir pequenas bolhas de ar no interior da seringa. Basta tocar suavemente na seringa para que as bolhas subam até a ponta, e pressionar o êmbolo até que todas as bolhas sejam removidas.

Garrafas

Garrafas de vidro são divididas em duas categorias: aquelas que são seladas e aquelas que não o são. Esta caracterização é importante para a escolha de um tubo, uma vez que estes também podem ter saídas ou não. Se o medicamento está guardado numa garrafa não selada, um tubo selado deve ser usado, e com as garrafas seladas um tubo intravenoso não selado. Em casos em que nenhum tubo aberto está disponível, uma agulha intravenosa deve ser usada para perfurar o selo e introduzir ar. (Isto é arriscado. Nunca se deve perder a atenção nas garrafas durante a perfusão para impedir que ar seja introduzido no tubo intravenoso.)

Os medicamentos degradam-se quando expostos ao ar. Colocar a medicação em gelo irá reduzir o grau de degradação, mas esta deterioração irá começar assim que esterilização ou o vácuo de um recipiente for quebrado, e isto aplica-se a todos os tipos de acondicionamentos, incluindo seringas. Uma vez aberto para administração, um medicamento deve ser usado num espaço de 24 horas. Se a medicação não for usada imediatamente, deverá ser guardada em gelo numa caixa de gelo ou num refrigerador.

As garrafas devem ficar penduradas (de cabeça para baixo) de um pólo intravenoso ou uma estrutura alta similar. A gravidade irá providenciar a pressão necessária para fazer a infusão da solução, e por causa disso, as garrafas devem ficar penduradas o mais acima possível do peito do paciente (de preferência pelo menos 2-3 pés, e o tamanho do tubo intravenoso irá geralmente determinar o limite superior).

Garrafas de vidro apresentam um sério risco de aero embolia, por isso devem ser vigiadas constantemente para evitar a introdução acidental de ar no paciente.

Sacos

Sacos flexíveis são usadas para grandes volumes de medicação, e são todos eles recipientes fechados. Para uma rápida infusão, uma pressão insuflável pode ser usada. Usar a técnica de pressurização irá representar um sério risco de aero embolia aqui também, por isso sacos pressurizados devem ser vigiados constantemente para evitar a introdução acidental de ar no paciente.

As soluções contidas nos sacos podem ser administradas sem abrir os respectivos sacos, uma vez que os lados mais flexíveis podem ser comprimidos para forçar o fluxo do fluido num tubo IV. Para melhores resultados, todo o ar deve ser removido do saco antes do mesmo ser pendurado para infusão. Isto é resolvido introduzindo um tubo IV no saco, abrindo assim a linha para o fluido correr, virando o saco ao contrário, e apertando-o para que o ar seja libertado pelo tubo IV. Um instrumento de pressão (semelhante ao instrumento de medição de pressão arterial) pode ser colocado à volta do saco (para uma rápida infusão) e ambos são pendurados no pólo IV. Uma vez pendurados, a válvula de inflamação do instrumento de pressão é apertada várias vezes. Isto irá começar o rápido fluxo do fluido para fora do saco.

O uso de sacos e instrumentos de pressão é preferível ao uso de garrafas de vidro. Com o ar removido do saco antes de este estar ligado ao paciente, existe uma chance inferior para que ar seja acidentalmente administrado no paciente. O instrumento de pressão também permite uma mais rápida infusão da medicação do que a própria gravidade.

Frascos

Frascos são essencialmente pequenas garrafas que contêm medicação tanto na forma liquida como pó. Estas pequenas garrafas têm normalmente uma rolha de borracha no topo que deve ser furada com uma agulha para aceder à medicação. Os frascos são selados em vácuo para manter a esterilidade da solução. Rolhas de borracha são desenhadas para administração de uma injecção apenas ou de múltiplas dosagens. As etiquetas no frasco em qualquer caixa associada irão providenciar este tipo de informação. Apenas um frasco "multi-dose" pode ser furado mais do que um vez e manter a esterilidade da solução.

Frascos que contenham pó devem ser re-hidratados com a solução apropriada (usualmente esterilizando a água). A prescrição guardada com o frasco irá providenciar informação mais detalhada sobre a constituição do pó. As quantidades necessárias de solução re-hidratada são introduzidas na seringa e depois injectadas através da rolha de borracha. A seringa é então removida do frasco e este é virado gentilmente para dissolver a medicação. Assim que o pó estiver completamente dissolvido, a medicação pode ser removida para administração.

Existe outro tipo de frasco que merece ser mencionado: Mix-O-Vial. Este é um recipiente engenhoso que tem duas câmaras separadas para medicação em pó e para a solução de reconstituição. Apenas basta remover o êmbolo para combinar o pó com o fluido, inverter gentilmente até que o pó fique dissolvido, e retirar do frasco usando uma agulha e uma seringa.

Antes da medicação liquida poder ser removida do frasco, o membro da equipa de transporte deve estar a usar luvas e ter o cuidado de montar agulhas e seringas esterilizadas. Remova a capa de plástico e limpe a rolha de borracha com uma compressa embebida em álcool. Coloque uma agulha na seringa. O fluido não deve ser removido do frasco sem primeiro se injectar algum ar através da rolha de borracha.

Encha a seringa com um volume de ar idêntico à quantidade de fluido que irá ser removido posteriormente. Inserir a agulha na rolha. Injectar a quantidade de ar para dentro do frasco, e sem remover o dedo da seringa, libertar a pressão do êmbolo. O fluido deverá fluir para dentro da seringa facilmente, uma vez que a pressão dentro do frasco aumentou com a injecção de ar. A ponta da agulha deve permanecer abaixo da linha do liquido para evitar encher a seringa com ar.

Ampolas

Estas são a última categoria do pacote de medicação, e elas providenciam o maior risco de lesão para o membro da equipa de transporte. Ampolas são pequenos recipientes sem qualquer tampa ou porta de injecção. São feitas de vidro e devem ser partidas antes de se administrar a medicação. Ampolas contêm uma única dose de medicação.

A ampola é geralmente cónica num dos lados com o fim de fornecer uma pega para partir o topo. Antes de partir e abrir a ampola, tenha o cuidado de usar luvas e enrolar a parte cónica da ampola com gaze. Bata acentuadamente para partir o topo. Enquanto segura a ampola com uma mão e a seringa com a outra, retire a medicação.

Preparação da Medicação

Todos os medicamentos para serem administrados a um paciente devem ser preparados antes de serem precisos, se possível. Ainda leva algum tempo a calcular as dosagens e as retirar para injecção. Se for feito antecipadamente, os membros da equipa de transporte têm que se certificar que todas as seringas, garrafas e sacos estão etiquetados. As garrafas e os sacos estão etiquetados pelos fabricantes, mas as seringas devem ser etiquetadas com o nome da medicação (ou uma abreviatura reconhecível) usando um marcador semi-permanente. Uma vez etiquetadas, as seringas podem ser guardadas para administrar mais tarde.

Se o paciente estiver em vias de morrer, os medicamentos podem ser preparados, mas os membros da equipa de transporte têm que ter em atenção que prever a hora da morte está muito longe de ser uma ciência exacta. Muitos pacientes da Alcor no passado excederam historicamente as estimativas de tempo de vida dos seus médicos e sofreram declínios durante horas (e em alguns casos, dias) a mais do que antecipado. A razão para tal é que os profissionais médicos concentram-se em melhorar as pessoas. Pouco tempo foi gasto na mecânica da morte. Como resultado, as previsões estão muitas das vezes erradas. Isto é importante, porque geralmente só existe um conjunto de medicamentos nos kits das equipas locais de emergência. Se os medicamentos forem preparados e o paciente tardar em morrer, a medicação irá degradar-se com o tempo e ficar inutilizável num espaço de 24horas. Margens de 24horas são normalmente suficientes para que seja necessário utilizar um segundo conjunto de medicamentos, mas se isso acontecer, mais medicamentos deverão ser enviados das instalações da Alcor.

Acesso Intravenoso

As IV providenciam portais para o sistema circulatório nos quais grandes volumes de medicação podem ser introduzidos. IVs são sempre introduzidas nas veias. Usar uma artéria para administrar a medicação num paciente é perigoso, por causa das pressões altas na circulação arterial e pelo facto do lado arterial do sistema vascular não fazer filtragem. (Os pulmões actuam como um filtro de emergência para a embolia.) Uma técnica IV imprópria causa danos nas veias que podem vir a ser irreparáveis, onde uma agulha pode ser espetada numa veia em vez de entrar cuidadosamente nela.

Os principais pontos de acessos para os pacientes de transporte são as veias basílicas e auxiliares no braço, a veia safena na perna, e a veia jugular no pescoço. A veia jugular, e qualquer IV central (como a subclávia), são locais de IV menos desejados para pacientes de transporte, porque o deslocamento de sangue causado pelas pressões altas do ressuscitador de coração e pulmões irá reduzir a quantidade de liquido transportado nesses vasos. Vasos femorais são menos desejados uma vez que esse é muito provavelmente o local onde será efectuada a cirurgia para remover o sangue do paciente. Colocar uma IV na área femoral pode também causar danos para a veia e tornar o acesso a esta área durante a remoção do sangue difícil ou impossível.

A medicação deve ser administrada ao paciente o mais cedo possível após a confirmação da sua morte juntamente com o arrefecimento de superfície e o inicio do suporte cardiopulmunar.

Enquanto que alguma da medicação pode ser administrada usando uma injecção intramuscular (através do músculo) ou subcutânea (debaixo da pele) durante a rotina hospitalar, estes métodos de administração não são usados num paciente de criónica. Durante episódios de isquemia e trauma severo, o corpo irá desviar o sangue da pele e músculos e redirecciona-los para os órgãos vitais. Isto reduz a eficiência da absorção da medicação intramuscular e subcutânea. A absorção pelo sangue é mais rápida quando a medicação é injectada directamente no sistema circulatório.

Existem quatro modos principais de falhas em terapias IV que devem ser evitados: aero embolia, hematomas, infiltração e coagulação. Uma vez que a introdução da IV requere treino e prática, deverá ser apenas efectuada por pessoal treinado. No entanto, isto não elimina a responsabilidade dos membros da equipa de transporte para observar a condição do paciente ou da IV. Qualquer membro da equipa de transporte que observe problemas com uma linha intravenosa deve avisar o líder da equipa de transporte ou qualquer outra pessoa responsável imediatamente.

Coagolação

Coagolação é a complicação mais fácil de evitar, e um dos dois modos de falha que podem simplesmente ser evitados com simples diligência. Uma linha IV, uma vez no paciente mas que não é usada momentaneamente, deve ser preenchida com Heparin e lavada ocasionalmente para prevenir a coagulação do sangue no tubo ou na agulha. Se o tubo não puder ser lavado, o tubo é então substituído sem se remover a agulha do paciente. Tentar outra lavagem, caso esta falhe novamente, colocar uma nova IV.

Aero-embolia

Um êmbolo (plural: êmbolos) é um tampão dentro das veias que flutua, ou migra, livremente até que os vasos sanguíneos estreitem e fique alojado. Uma vez alojado, o êmbolo irá obstruir a circulação. Um êmbolo pode ser um coágulo sanguíneo, uma bolsa de ar, um deposito de gordura ou um tumor [2]. Aero embolia são bolhas de ar que foram administradas ao paciente, bolhas que bloqueam o fluxo sanguíneo.

Existem muitas maneiras para administrar estas bolhas num paciente. Cada uma delas deve ser evitada. Se ar for administrado num paciente, deverá ser registado nas notas de transporte. Incluir as circumstâncias e uma estimativa do volume de ar administrado.

Alguns medicamentos são guardados em sacos IV ou selados em garrafas. Tanto os sacos como as garrafas contêm ar frequentemente. Ar pode ser facilmente removido dum saco IV, por causa dos seus lados flexíveis, e deverá certamente ser removido antes dos tubos IV estarem ligados. Técnicas adequadas de esterelização deverão ser observadas a todo o tempo. Durante o transporte, o membro da equipa de transporte que está a administrar a medicação é responsável por verificar que nenhum saco IV está pendurado para o paciente com ar no seu interior. É muito dificil, durante o transporte, manter uma supervisão constante nos tubos IV, por isso prevenir é a chave para evitar esta ameaça para a perfusão.

Garrafas são outra matéria - o ar não pode ser removido do seu recipiente. Se for permitido uma garrafa se esvaziar sem fechar o tubo, ar irá entrar no sistema circulatório do paciente. O tubo IV deverá ser fechado antes que a garrafa se esvazie. Durante o transporte, o membro da equipa de transporte que está a administrar a medicação será responsável por garantir que nenhuma garrafe se esvazie.

Linhas IV são a fonte de êmbolos se estas não forem totalmente preenchidas com liquido antes de se começar a infusão.

Precauções de segurança

Nenhum membro da equipa de transporte irá preparar ou administrar medicação sem usar luvas.

Assim que o plástico que cobre a agulha for removido, este não deverá ser novamente colocado nessa mesma agulha. Remova cuidadosamente a agulha da seringa e coloque-a num recipiente apropriado. Assim que todos os objectos afiados tiverem sido recolhidos, sele o recipiente para ser enviado juntamente com o paciente.

Um Formulário de Incidentes deve ser incluído nas notas de transporte se algum membro da equipa de transporte tiver sido exposto a material infeccioso, o que pode acontecer com uma picada de uma agulha.

Canulação Intravenosa

Existem três tipos básicos de agulhas e cateteres usados nas linhas periferais para administrar a medicação. Primeiro, um conjunto de infusões rápidas consiste numa agulha com asas de plástico e tubos com adaptador para linhas IV e pontas de seringa. Por fim temos dois tipos de cateteres. Um deles é "por-cima-da-agulha" e o outro é "por-dentro-da-agulha". Os cateteres "por-cima-da-agulha" são preferiveis aos outros, uma vez que a sua troca é mais fácil.

Cateteres são preferiveis aos conjuntos de infusões rápidas, uma vez que é geralmente mais rápido para fazer a infusão de grandes volumes de fluido no paciente. Cateteres podem também ser colocados mais rapidamente no paciente. Use o maior tamanho possível. (Nota: agulhas, cânula e cateteres são dimensionados de maneira a que os numeros mais baixos sejam os maiores das agulhas.)

Se a morte de um paciente tiver sido pronunciada no hospital ou durante a supervisão de um médico, podem já existir cateteres colocados. Se tal acontecer, peça para que eles não sejam retirados após a morte do paciente. Antes de usar qualquer tubo que tenha sido deixado colocado no paciente, tenha a certesa que a porta de injecção é compatível com a medicação que vai ser administrada. Certifique também que não existe sangue coagulado no tubo. Isto pode ser evitado ao inserir repetidamente, com um espaço de poucos minutos entre cada inserção, uma baixa concentração de solução Heparin (10U/50ml) no tubo.

Normalmente os tubos IV só serão colocados por membros da equipa de transporte que tenham experiência e treino. Seja como for, todos os membros da equipa devem estar familiarizados com os tipos disponiveis de tubos IV e as agulhas e como trabalhar uma IV.



Colocação de Cateter usando Corte


1. Assim que a veia tiver sido localizada (usualmente através de apalpação) e a pele tiver sido limpa com Betadine, uma incisão pode ser feita na pele.

2. Uma dissecação brusca é usada para isolar a veia dos tecidos adiposos (fáscia) e musculo que a rodeiam. Evitando cortar qualquer vaso sanguíneo nessa área. (Cauterize ou prenda com um gancho, conforme necessário e disponível).

 
3. Assim que a veia tiver isolada de qualquer tecido, deslize as pinças por baixo e puxe as suturas que se encontram em baixo. (Pelo menos um proximal e dois distal.) Amarrar a extremidade distal o mais abaixo possível que a incisão permita.
 
 
4. Use a sutura proximal para levantar a veia (para previnir sangramentos indevidos). Use uma pinça Bulldog para o segurar. Use uma pinça para segurar a veia no seu lugar. Usando uma lámina #15, corte a veia num percurso ascendente começando a cerca de metado do caminho para baixo.
 
 
5. Use as pinças para estabilizar o corte e o manter aberto. Com a outra mão, insira o cateter. Remova a pinça a insir o cateter o mais longe que conseguir. Amarre a sutura proximal. Use a segunda sutura distal para segurar o cateter.
 




Gestão IV

Muitos medicamentos serão administrados através de um tubo IV. Existem vários tipos, incluindo abertos e fechados ou filtrados e não filtrados. Tenha o cuidado de usar sempre o mais apropriado para cada tipo de medicação.

Todos os tubos IV têm braçadeiras para parar o fluxo de fluido. Muitos têm portas para administração da medicação com uma seringa, em adição à garrafa ou saco. Outras portas chegam a permitir a adição de outro tubo IV no circuito.

Se uma agulha ou seringa for usada para adicionar medicação num tubo IV, prenda o tubo mesmo acima da porta e injecte a nova medicação. Nunca administre ar. Nunca deixe uma IV ficar vazia.

Todos os medicamentos administrados ao paciente devem ficar registados no registo permanente do paciente (hora administrada, nome da medicação, e quantidade administrada). Um lema que é aplicado à criónica é: "se não está registado, não foi administrado." Esta será a assumpção na avaliação pós-suspensão para a performance da equipa e a qualidade da suspensão recebida pelo paciente. O Manual de Resposta a Emergencias de coordenação de transporte contem formulários desenhados para registar toda esta informação. Use-os.

É fácil em situações em que existe bastante pessoal no transporte, atribuir as funções de registos para uma pessoa e a função de administração de medicamentos a outra. É responsabilidade do individuo que está a dar a medicação assegurar-se que a informação correcta está a ser registada.

Conclusão

Uma grande quantidade de informação está contida neste capítulo, e muita será útil para o membro da equipa de transporte durante o tempo de espera ou em situação de transporte. Muitos médicos e enfermeiros estão interessados nos tipos de medicamentos administrados aos pacientes Alcor. Demonstrar um entendimento e o propósito da medicação e os danos que pode causar irá ajudar e melhorar a credibilidade do pessoal médico da criónica. Reconhecer as falhas da medicação irá ajudar o membro da equipa a prevenir os danos do paciente da suspensão, o que é o objectivo do transporte.

Medicação, juntamente com arrefecimento e suporte cardio-pulmunar, irá providenciar uma estrutura de protecção óptima para um paciente, dentro das restrições actuais. A equipa de transporte que conseguir atingir estas etapas terá feito um trabalho admirável. Apenas a remoção do sangue fica a faltar como medida de prevenção. Este é o assunto do próximo capítulo.

Calcular o Volume de Medicação a Administrar

O volume de medicação a administrar é calculado com a formula: dosagem x peso do paciente em kilogramas ÷ concentração do pacote


MEDICATION
DOSAGE
(units/kg)
Weight of Patient
(KG)
Package Concentration 
(units/ml)
Volume to Give
(ml)
HEPARIN  420U      
POTASSIUM CHLORIDE (OR)  1mEq      
SODIUM PENTOBARBITOL  30mg      
DEFEROXAMINE HCL  2g in all      
EPINEPHRINE  0.2mg      
NIMODIPINE (OR)  10ug      
DILTIAZEM  300ug      
SODIUM CITRATE  120mg      
ASCORBIC ACID  125mg      
TROMETHAMINE  250mg      
CHLORPROMAZINE HCL  3mg      
METHYLPREDNISOLONE  1g in all      
MANNITOL  2g      
METUBINE IODIDE  0.07mg      
GENTAMICIN SULFATE (OR)  1mg      
ERYTHROMYCIN  1g in all      
BACTRIM  10ml in all      
DEXTRAN-40  500cc at most      
MAALOX  250cc      
STREPTOKINASE  1,000U      
VERAPAMIL  0.30mg      
  • HEPARIN: é um anti-coagulante (previne novos coágolos de ser formarem, não afecta coagulos já formados.)
  • POTASSIUM CHLORIDE: reduz a demanda metabólica cerebral.
  • SODIUM PENTOBARBITOL: reduz a demanda metabólica cerebral e a actividade electrica do cerebro.
  • DEFEROXAMINE HCL: vincula o excesso de ferro-livre num não destrutivo, composto quimicamente estável e reduz dos danos dos radicais livres.
  • EPINEPHRINE: suporta a pressão arterial e ajuda a combater as propriedades ralaxativas da nimodipina e diltiazem.
  • NIMODIPINE: inibe a contracção do musculo liso, bloqueando o influxo de cálcio numa célula danificada, reduz o espasmo arterial durante a isquemia, e oferece protecção contra o "não refluxo" cerebral.
  • DILTIAZEM: tem efeitos similares aos da nimodipine.
  • SODIUM CITRATE: vincula o excesso de calcio num composto quimico estável não-destrutivo e reduz os danos cerebrais da reperfusão.
  • TROMETHAMINE: combate a acidose.
  • CHLORPROMAZINE HCL: estabiliza a membrana celular e protege contra os danos gelados da isquemia.
  • METHYLPREDNISOLONE: funções similares ao chlorpromazine.
  • MANNITOL: reduz os danos dos radicais livres e previne o edema cerebral.
  • METUBINE IODIDE: paraliza os musculos para inibir os tremores e reduz a demanda metabólica.
  • BACTRIM: previne o aparecimento de micróbios. Um agente anti-bacteriano.
  • ERYTHROMYCIN: tem efeitos similares ao Bactrim.
  • GENTAMICIN SULFATE: tem efeitos similares ao Bactrim.
  • DEXTRAN-40: minimiza a formação de capilares pastosos e suporta a pressão arterial em pacientes com volumes baixos.
  • MAALOX: previne a acomulação de acido gasttrico e reduz as hipoteses de uma emorragia gastrica.
  • STREPTOKINASE: dissolve os coágulos.
  • VERAPAMIL: reduz a carga de cálcio intracelular.

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