Capítulo 11: Caso Especial - Autópsia
Para os crionicistas, uma autópsia inevitável pode ser a situação mais frustrante e difícil emocionalmente de todas as situações de transporte e suspensão criogénica. O paciente pode sofrer lesões estruturais significativas durante as negociações para obter a libertação do paciente de um médico legista ou médico examinador, tanto ao nível macro - por meio da dissecação dos órgãos e do corpo - como ao nível micro - através da degradação celular. Os membros da equipa de transporte estão cientes da natureza crítica ao nível de tempo de uma suspensão criogénica, no entanto, eles não devem permitir que isso acelere indevidamente a tomada de decisões para preparativos de transporte, no caso de estar a ser realizada uma autópsia. Os Médicos Legistas não levam a bem o facto de serem pressionados por crionicistas. Numa situação de autópsia, as leis do Estado têm de ser cumpridas, e têm de ser cumpridas antes da libertação do paciente ocorrer. Os membros da equipa que mantenham a calma e mostrarem um comportamento profissional enquanto tratam das exigências burocráticas receberão geralmente uma melhor cooperação das entidades regulamentadoras competentes.
As condições que exigem uma autópsia variam de estado para estado e de país para país. Mesmo o agente regulador que determina a necessidade de uma autópsia pode variar: pode ser um "médico legista" ou um "médico examinador" que tenha esta autoridade. Em futuros apontamentos, o termo "médico legista" é usado para referir o agente regulador local, seja um "médico legista" ou um "médico examinador" o realizador das autópsias. Alguns dos tipos de morte que necessitam de autópsia estão listados na tabela abaixo.
Tipos de Morte sujeitas a Autópsia
Morte não assistida |
Morte depois de um acidente ou lesão |
Médico incapaz de determinar a causa da Morte |
Associada a violação |
Homicídio suspeitado ou sabido |
Associada a crime |
Suicídio suspeitado ou sabido |
Afogamento |
Morte envolvendo um acto criminoso |
Incêndio |
Suspeita de envolvimento em acto criminoso |
Tiro de arma |
Doença ou Perigos de trabalho |
Fome, Exposição, Asfixia |
Morte na sala de operações (dentro de 24 horas) |
Envenenamentos acidentais |
Na Prisão ou sobre sentença |
Consumo de Droga |
Todas as mortes de pessoas não identificadas |
Síndroma de morte súbita infantil (SIDS) |
Doenças contagiosas / perigo para a saúde pública |
Esfaqueamento, corte, perda de sangue |
Envolvendo morte induzida / aborto criminoso |
Estrangulamento |
Dos tipos de morte listados em cima, há duas classes de morte que resultam em autópsia que requerem maior explicação do que a tabela permite. Cada uma destas é de classificação ambígua e é sujeita a interpretação pelo médico legista, que escolhe se vai autopsiar e com que detalhe o vai fazer. Estes tipos são de morte não presenciada e a seguir a um acidente ou lesão.
A morte não presenciada engloba todas as mortes que ocorrem sem a presença de um médico. Normalmente, o médico legista vai investigar estas mortes. Se o resultado de uma investigação leve é de que o indivíduo morreu de causas naturais e se um médico qualificado assinar o certificado de morte evidenciando "morte por causas naturais", o médico legista pode evitar uma autópsia completa e libertar o corpo do paciente para a Alcor.
Para pacientes que morrem num Hospital, (para propósitos de regulamento de autópsias) o paciente tem um médico a assistir na hora da morte. Nos casos em que o médico principal do paciente não está disponível, por alguma razão, a morte é geralmente reportada ao médico legista para investigação. Isto pode resultar na decisão de autopsiar o paciente.
A morte por acidente ou lesão pode acontecer por diversas circunstâncias. Um acidente pode ocorrer a caminho ou durante o trabalho. Pode ser um acidente de carro, de bicicleta, de queda, todas as lesões resultam de um acidente, etc. Esta lista poderia continuar por várias páginas.
Uma situação onde a requisição da autópsia pode ser evitada é num caso de uma pessoa idosa que caiu em casa e fracturou um osso. Uma consequência da queda pode ser o paciente ser levado para um hospital para tratamento, onde o tratamento é impedido pelo choque, o que resulta na supressão do sistema imunitário e que leva ao desenvolvimento de uma broncopneumonia, isto pode levar a uma morte inevitável do paciente. Em algumas situações deste tipo o médico legista pode evitar a autópsia, baseando a causa da morte no relatório médico feito.
Todo o pessoal do transporte deve estar consciente que as condicões de autópsia discutidas em cima (incluindo as listadas na tabela) são baseadas em políticas locais e procedimentos das entidades responsáveis, e que estes procedimentos e políticas podem variar de país para país.
Apesar das diferenças regionais, é muito importante perceber a fundo os requisitos locais de cada paciente. Qualquer ambiguidade na informação ou material obtido do médico legista local tem de ser resolvido! Em particular, é essencial perceber os requisitos sobre a presença de um médico ou enfermeiro para a pronunciação de morte legal. Asserções que possam ser sujeitas a várias interpretações têm de ser clarificadas. O "médico de atendimento" pode significar que o médico pode estar presente no momento da morte, ou pode significar que o indivíduo tem de ser visto por um médico em 24 horas da pronunciacão da morte.
Sempre que seja suspeitado que um paciente Alcor tem, ou está em risco de, tornar-se um "caso de médico legista", é essencial avançar rápido. Em seis estados (California, New Jersey, New York, Ohio, Rhode Island e Maryland), uma autópsia pode ser prevenida se o paciente tiver executado uma "Objecção Religiosa à Autópsia". Este documento permite a um indivíduo declarar que não quer ser autopsiado, e a objecção é baseada em crenças religiosas, a natureza exacta não necessita de ser especificada (i. e., um simples "Eu objecto" é suficiente).
Contacte a Alcor e informe da possível autópsia, e se o paciente viver num destes 6 estados listados em cima, descubra se uma "Objecção Religiosa à Autópsia" está disponível. De seguida, contacte o médico legista e peça-lhe cooperação. Ofereça assistência à Alcor na entrega do paciente ao médico legista, e peça que o pessoal da Alcor tenha permissão para prosseguir com o protocolo de transporte, que pode incluir o "blood wash-out" e a substituição pela solução de preservação de órgãos antes da autópsia ser efectuada. (Este pedido está dependente da condição do paciente quando a Alcor for notificada da eminente pronunciação da morte.)
Se a equipa de transporte no local não puder implementar o protocolo de transporte antes da autópsia, é necessário fazer o pedido para que a autópsia seja evitada por circunstâncias não normais (o desejo do paciente executar uma doação anatómica de corpo todo, e a obrigação contractual da Alcor levar a cabo esta disposição legal). Se eles não quiserem libertar o paciente à equipa de transporte sem uma autópsia (não desanimem com estas declarações, é normal acontecerem), façam o pedido para limitar a área abrangida pela autópsia: mais especificamente, sugiram que um exame externo pode ser suficiente para os propósitos deles. Se o médico legista insistir em usar técnicas invasivas de investigação, peçam que o patologista não execute examinação directa do cérebro: não o remover do crânio, sem pesar nem seccionar. Peçam sempre para o paciente ser guardado numa sala refrigerada (idealmente, 2-4˚C - É MUITO IMPORTANTE QUE A TEMPERATURA ESTEJA ACIMA DA TEMPERATURA DE CONGELAMENTO PARA PREVENIR A FORMAÇÃO DE GELO!) antes e imediatamente depois da autópsia.
Lembre-se que apesar dos médicos legistas concordarem em alojar estes pedidos, eles podem proceder como entenderem e fazerem os exames que quiserem (i.e. eles podem e mentem). Tomem todas as providências possíveis para verificar os procedimentos, e as temperaturas da sala de refrigeração onde o paciente está a ser armazenado.
Quando um paciente da Alcor está sobre o risco de autópsia, o técnico de transporte deve permanecer o mais próximo do cliente possível, e não deixar as instalações do sítio onde o paciente está a ser mantido até depois da questão da autópsia estar resolvida. A presença de um membro da equipa de transporte pode encorajar a libertação rápida do corpo e cérebro do paciente logo que a investigação esteja completa.
Garanta que toda a papelada necessária esteja completa antes de transportar o paciente do gabinete do médico geral. Enquanto que a lista exacta de documentos necessários pode variar de acordo com as regras locais, os requisitos mínimos devem ser: Um certificado de morte assinado (e certificado pelo Estado, se houver tempo), um formulário de "Disposição de Restos Humanos", e um permissão de transporte. Se as mortuárias locais estiverem envolvidas com a remoção de um paciente, elas podem ajudar com o preenchimento dos documentos de transporte. Lembre-se que os directores funerários são peritos a preparar os documentos para transportar restos mortais. E se o director funerário não preparar os documentos, garanta que a papelada foi revista antes do transporte. Esta consulta, porém, não deve interferir com o tempo de transporte de um paciente.
Preparações de Transporte Pós-Autópsia
Quando uma autópsia invasiva foi efectuada, não vai existir perfusão crioprotectora.
Nestes casos, e logo que a libertação esteja segura, a prioridade da equipa de transporte é iniciar o arrefecimento. É importante lembrar que se uma autópsia tiver ocorrido, secções do corpo do paciente podem ter sido removidas (como o cérebro) e colocado num contentor separado. Por causa do médico legista ter autoridade para guardar algumas partes do corpo para estudo, verifique que todos os órgãos (especialmente o cérebro) são libertados com o corpo.
Se órgãos individuais tiverem sido removidos, como o cérebro, coloque esses órgãos em contentores separados (sacos Ziploc serão suficientes, se forem largos o suficiente). Remova o máximo de ar possível dos contentores, sele-os com segurança, e depois envolva completamente o contentor do órgão com gelo.
Os membros da Equipa de transporte devem sempre coordenar os detalhes do envio, porque em certas circunstâncias, o paciente deve ser embalado em gelo seco (CO2 sólido) para envio.
Conclusão
Numa nota final de cautela, um membro da equipa de transporte que vai recolher um paciente autopsiado do médico legista local deve estar psicologicamente preparado para a realidade de uma morgue. As autópsias são o procedimento mais evasivo, cirúrgico ou de outra forma, que pode ser feito legalmente a um ser humano (garantidamente, o indivíduo tem de ser pronunciado morto primeiro). Não existe nenhuma tentativa de ser "gentil". O objectivo de uma autópsia é informação sobre a causa da morte, e o resultado pode ser horrível. Esteja preparado.
Dos três tipos de situação de transporte mencionadas no Capítulo 2, as situações que envolvem autópsia são as mais descomplicadas tecnicamente. Geralmente, não há muito a fazer a um paciente que foi danificado desta maneira, e os membros da equipa de transporte devem concentrar-se no arrefecimento e na entrega rápida do paciente às instalações da Alcor, assegurando que todas as parte do corpo estão presentes quando um corpo é libertado.
Ir para o Capítulo 10, Capítulo Extra ou Índice.
|